Necessidades do mercado trans abrem oportunidades de negócio

Estima-se que há cerca de 4 milhões de pessoas com esse perfil no Brasil, porém, a oferta de produtos específicos, como roupas íntimas, ainda é pequena.

Com a valorização e a afirmação da diversidade na sociedade brasileira, diversas necessidades que antes estavam escondidas pelo preconceito começam a aparecer – e mostram que podem ser, também, um nicho de mercado para os empreendedores. Um estudo realizado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2020, aponta que cerca de 2% da população brasileira – ou 4 milhões de pessoas – são trans. Esse público necessita de um vestuário íntimo próprio, por exemplo, porém, a oferta de peças específicas ainda é tímida, o que representa oportunidades para quem está em busca de empreender.

Entre as pessoas que perceberam a oportunidade de investir no ramo, está Silvana Bento. Ela trabalhava em um hospital como técnica em hemoterapia e presenciou muitos casos de mulheres trans com problemas renais causados pela prática de “aquendar” (forma de disfarçar o órgão genital masculino com fitas colantes), que as obriga a ficar muitas horas sem ir ao banheiro. Uma paciente acompanhada por Silvana, que usava esse recurso havia muitos anos, morreu durante uma hemodiálise.

Impactada com a situação, Silvana decidiu criar a loja online Trucss, confecção especializada em moda íntima trans, atendendo à necessidade de “aquendar”. “É um mercado desafiador, somos um país coberto de preconceitos e é uma luta diária para desmistificá-los. Mas existe uma enorme demanda desses produtos e há poucos concorrentes, o que o torna um ótimo segmento para se investir”, afirma a empreendedora.

Porém, a discriminação afeta diretamente o lado financeiro do negócio. “É muito difícil encontrar alguém que invista, principalmente pelo fato de minha empresa ser direcionada ao público LGBTQIA+, majoritariamente a mulheres trans, devido à realidade preconceituosa em que estamos inseridos”, diz Silvana. Mesmo trabalhando apenas com peças íntimas, ela não consegue expor seus produtos em lojas de departamentos e eles ficam restritos à venda em sex shops.

Silvana chegou a abrir uma loja física, localizada na rua Augusta, na capital paulista, mas, com a pandemia e as restrições de funcionamento, teve de fechar as portas. Mesmo assim, ela conta que gostaria de manter um ponto fixo. “Eu poderia oferecer uma experiência de compra melhor para as clientes, onde teriam a possibilidade de provar e sentir as peças de roupa pessoalmente, já que a compra online é meio que ‘no escuro’, sem a experiência completa.”

Silvana ressalta que, além da pouca concorrência, o fato de serem peças de roupa de grande necessidade favorece o crescimento da sua empresa. “Vou expandir meus produtos para homens trans também, que necessitam de itens como binders para as mamas, cuecas próprias e até mesmo packers.” (Veja no quadro ao lado o que significam os termos utilizados.)

Quem também viu oportunidades de negócios no universo trans foi a empreendedora Daniela Beltrami. Ela trabalhava com moda íntima convencional quando recebeu um pedido de uma cliente trans para fazer peças que se adequassem ao seu corpo. Daniela aceitou a proposta e montou o e-commerce de moda trans Dani Bel há dez anos.

No caso dela, o modelo de loja digital atende às suas perspectivas. “Não vale a pena investir em espaço físico, seria contraprodutivo, pois tenho clientes fixas por todo Brasil e estou localizada em São José, em Santa Catarina, onde não existe muita procura”, conta.

Daniela notou uma aproximação maior com suas clientes trans em comparação com as do mercado convencional, o que a faz não sentir necessidade de atuar com o público cis novamente. Apesar de tudo, ela também percebe que o preconceito dificulta a obtenção de investimento. Além disso, ela acrescenta que a necessidade de as roupas serem feitas com tecidos específicos para maior conforto e durabilidade acabam encarecendo o produto final. No entanto, ela buscou formas de driblar essas questões e nada disso impediu que sua empresa crescesse. Durante a pandemia, por exemplo, ela baixou os preços das calcinhas para manter as clientes e procurou aumentar o volume de trabalho para manter as contas em dia.

INCLUSÃO

Na opinião do consultor do Sebrae-SP Paulo Henrique de Oliveira, a população trans está tão excluída que não só os estudos sobre esse público são escassos, como há uma enorme dificuldade de inclusão em lugares que já são ocupados por pessoas cis, principalmente no ambiente comercial.

Para reverter o quadro, o Sebrae- -SP, por meio do movimento Sebrae Delas, busca incluir as mulheres em situação de vulnerabilidade, inclusive as trans, no mercado profissional. O Sebrae Delas oferece uma série de capacitações para que as mulheres conquistem sua autonomia social e financeira por meio do empreendedorismo. Outras informações em https://contato.sebraesp.com.br/sebraedelas/.

Na mesma linha, Silvana Bento conseguiu uma parceria com a ONU Mulheres para capacitar 30 mulheres trans na área de moda, auxiliando no acolhimento dessa população. A ONU Mulheres dedica-se a defender, em âmbito internacional, os direitos humanos das mulheres.

 

Leia a matéria completa em: https://sp.agenciasebrae.com.br/modelos-de-negocio/crescimento-abre-oportunidades-no-mercado-trans/

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